RIO - Ao som de Zeca
Pagodinho e Arlindo Cruz, o médico Flávio Rezende, que costuma ouvir música
durante as cirurgias, foi o primeiro brasileiro a realizar uma operação que
devolverá a visão a uma pessoa cega. O procedimento foi realizado nesta
terça-feira no Hospital Maisonneuve-Rosemont, no Canadá, e durou cerca de
quatro horas. O cirurgião, chefe do Departamento de Retina da Universidade de
Montreal, implantou um chip na retina de uma mulher de 51 anos. O mecanismo
receberá imagens de uma câmera instalada no óculos da paciente e as enviará ao
cérebro.
— A tecnologia está bem no
começo, então fazemos a comparação com uma televisão em preto e branco. Hoje
quando você mostra isso para uma pessoa ela pensa que é ruim, mas a tecnologia
começou dessa forma. Para um paciente que não enxergava, passar a enxergar
mesmo que em preto e branco já é algo maravilhoso. Já estão trabalhando em um
avanço de software, para tentar imagem em cores. Então, provavelmente, até o
ano que vem pode ser que os pacientes já consigam enxergar colorido. Não é a
visão que eu e você temos, é uma visão digital, eles veem píxels— explica
Rezende.
A tecnologia é indicada
para pessoas com distrofias que afetam as células receptoras de luz da retina
(mais comuns em idosos), dessa forma, o chip implantado faz o papel dos
fotorreceptores e manda a imagem capturada pela câmera instalada no óculos que
será usado pelo paciente para o cérebro, por meio do nervo óptico. Para
transmitir as informações do óculos para o chip, a tecnologia utiliza
radiofrequência que, segundo o médico, é mais estável e menos suscetível à
interferências externas como aconteceria no caso do uso de Wifi. No Canadá e
nos EUA, uma pessoa pode ser submetida a esse tipo de cirurgia a partir dos 25
anos, já na Europa pacientes a partir dos 18 anos podem ser operados.
A cirurgia custa cerca de
US$ 170 mil e existe a intenção de que seja trazida para o Brasil. De acordo
com Rezende, a empresa detentora da tecnologia pretende apresentar a proposta à
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para obter o aval e trazer o
olho biônico para o país.
— Estou orgulhoso por ser
o primeiro brasileiro a fazer isso. Estamos tentando desenvolver um projeto
para levar à Anvisa. Agora está economicamente difícil conseguir a aprovação e
levar a tecnologia ao Brasil, mas quando a economia melhorar o projeto já
estará lá para ser analisado— destaca.