Chegando de Nova York a
presidente Dilma terá pela frente uma quarta-feira perigosa, em que problemas
diversos podem desaguar na sessão em que o Congresso apreciará dois vetos a
projetos que criam despesas bilionárias. Um concede aquele reajuste polpudo aos
servidores do judiciário. Outro estende a todos os aposentados do INSS o reajuste
anual do salário-mínimo. Bombas que o Congresso armou e precisam ser
desarmadas. Para conseguir da base aliada os votos para a manutenção dos
vetos, Dilma não pode cometer qualquer
erro no trato de duas questões: terá de sancionar a lei eleitoral sem vetar a
nova regra para mudança de partido (contrariando o ministro Kassab, que pediu o
veto para viabilizar seu projeto de PL) e terá que se acertar com o líder do
PMDB na Câmara, Leonardo Picciani, sobre a reforma ministerial.
A eventual derrubada destes
dois vetos, verdadeiros atentados ao ajuste fiscal, teria uma repercussão
econômica imediata e imprevisível, certamente danosa. O reajuste do Judiciário, segundo o governo,
traria um aumento de gastos da ordem de R$ 25,7 bilhões nos próximos quatro anos. O impacto seria de
R$ 1,5 bilhão em 2015; de R$ 5,3 bilhões em 2016; de R$ 8,4 bilhões em 2017; e
de R$ 10,5 bilhões em 2018. Já a
extensão do reajuste do salário-mínimo a todos os aposentados geraria uma
despesa adicional de R$ 9,2 bilhões anuais, sendo R$ 4,6 bilhões em 2015.
E como anda o humor da
base com vistas à quarta-feira?
Instável, sujeito a surtos de desconfiança. Em relação à sanção da
mini-reforma eleitoral, não apenas o PMDB mas também outros partidos da base
procuraram o ministro Ricardo Berzoini, que está reassumindo a coordenação
política, para argumentar a favor da
sanção do projeto, sem o veto pedido por
Kassab. A Casa Civil, ao confirmar que
houve o pedido, adubou as
desconfianças. O artigo em questão
fecha as janelas de migração, que só se abririam a cada seis meses que
antecedem um pleito. Kassab esperava
viabilizar e engordar seu PL com adesões de outros partidos a qualquer momento,
pois hoje a lei permite mudança sem perda de mandado para partido recém
criado. Então, antes que a marola
cresça, o governo deve divulgar logo o teor do decreto de sanção, que só será
publicada no Diário Oficial de quarta-feira.
Será melhor que partidos e congressistas conheçam logo seu teor.
Não menos delicada será a
retomada da reforma ministerial. Tendo oferecido à bancada da Câmara, através
de Picciani, os ministérios da Saúde e da Infraestrutura, que seria criado pela
fusão de Portos e Aviação Civil, Dilma
precisou recuar na véspera do embarque.
O grupo de Temer pediu a manutenção de Padilha na SAC e o do Senado
reagiu contra a extinção de Pesca, ocupado por Helder Barbalho. Dilma pensou em
transferi-lo para Portos mas com isso, faltará ao acertado com Picciani. Logo ele, que nos últimos dias tornou-se a
tábua de salvação do governo. Na semana
passada, quando o governo conseguiu manter quase todos os vetos apreciados, ele
garantiu cerca de 50% dos votos da bancada. É pouco mas no clima em que andaram
as relações entre Dilma, Temer e a cúpula do partido, podia ter sido pior. O líder arrancou também da bancada uma
decisão favorável à permanência na coalizão governista por 42 a 9. Então, a equação é óbvia. Dilma tem que
arranjar um jeito de contentar quem pode lhe dar votos. O mais indicado, nesta altura das
dificuldades para acomodar todo mundo com dez ministérios a menos, será deixar
a conclusão da reforma para depois desta quarta-feira perigosa.
Fonte:Brasil 247