PARIS - Paris se viu diante de um intenso
ataque terrorista coordenado nesta sexta-feira, deixando pelo menos 140 pessoas
mortas (118 somente em um dos atentados), além de um número ainda maior de
feridos. Homens armados abriram fogo em vários pontos da capital francesa.
Também ocorreram três explosões do lado de fora do Stade de France, onde a
seleção de futebol do país jogava um amistoso contra a Alemanha. Três pessoas
morreram no entorno do estádio, disse a polícia. Ao menos cem reféns foram
mortos dentro do teatro Bataclan durane um show. Um outro ataque também foi
registrado num shopping em uma área central da cidade, em Les Halles. A França
abriu um alerta vermelho. Ao menos dois brasileiros ficaram feridos nos
ataques, informou a embaixada.
Um ataque armado com fuzis Kalashnikov no 10º
arrondissement de Paris deixou mortos e feridos, segundo a polícia da capital
francesa. Pelo menos um homem com a arma automática teria invadido o loca.
Segundo a BBC, ao menos dez pessoas morreram no restaurante Le Petit Cambodge.
A área do primeiro tiroteio é próxima à Praça
da República, área muito movimentada de Paris. De acordo com testemunhas, os
agressores fugiram após disparar mais de cem vezes, e pessoas estavam sendo
retiradas às pressas do local — também perto do canal Saint Martin, área muito
frequentada às sextas-feiras à noite.
Um jovem saiu de casa, a poucos passos da Rue
de Charonne, e disse: "Eu saí para dar uma volta tarde nesta sexta-feira e
vi o horror, os corpos sem vida na rua, e as pessoas jogando lençóis de suas
janelas para cobrir os corpos... Isto é uma guerra na minha casa. Posso entrar
em casa, e eu ainda estou bloqueado."
SEQUESTRO COM MAIS DE CEM MORTOS
Um segundo tiroteio teria ocorrido logo
depois perto do local, no boulevard Voltaire. Dois homens armados teriam
entrado no bar Le Carillon e abriram fogo, de acordo com testemunhas. Um dos
atiradores teria gritado "Allahu akbar" (Deus é grande) e "Isso
é pela Síria", testemunhas disseram, indicando que eles poderiam ser
radicais islâmicos.
A polícia relatou um terceiro tiroteio, com
15 mortos, e reféns no próprio Bataclan, segundo a France24. O episódio ocorreu
no meio do show da banda Eagles of Death Metal, do vocalista do Queens of the
Stone Age, Josh Homme. Ele não estava na turnê, no entanto.
Testemunhas disseram que pessoas entraram
atirando a esmo no local, e funcionários da polícia falaram em cem reféns. Ao
menos 30 foram libertados, e um refém pediu pelas redes sociais que a polícia
invadisse o local, porque os jihadistas teriam prometido matar "um a
um".
Por volta de 21h30m (de Brasília), explosões
e tiros foram ouvidos na área. A polícia estaria iniciando uma operação de
resgate dos reféns. Três terroristas foram mortos durante a operação, segundo a
polícia, que declarou o cerco como terminado, e um policial se feriu. De acordo
com o vice-prefeito parisiense, ao menos 118 pessoas morreram somente no
ataque.
Um jovem que se identificou como Hervé disse
ao "Telegraph" que havia cerca de mil pessoas no local, e que três
jovens de pouco mais de 20 anos entraram atirando com kalashnikovs. Outras
testemunhas falaram que o cenário era de carnificina.
"Foi um caos. Eu estava à direita no
salão do Bataclan, uma canção de Eagles of Death Metal estava acabando quando
ouvi barulhos como explosão de fogos de artifício. Vejo o cantor suspender a
guitarra, me viro e vejo um cara armado com uma arma automática disparando para
o ar. Todo mundo se deitou no chão. A partir daí, é o instinto que assume a
cada explosão e tentamos rastejar o mais longe possível dos atiradores (não
posso te dizer o número, tudo aconteceu muito rápido)", disse outra
testemunha ao "Le Figaro".
A região fica perto do antigo escritório do
semanário satírico "Charlie Hebdo", onde 12 pessoas foram mortas por
terroristas islâmicos em janeiro. Os agressores foram ouvidos também atribuindo
a culpa do ataque à ajuda francesa na intervenção militar ocidental em Iraque e
Síria.
EXPLOSÕES
Após as três explosões dentro do estádio, em
Saint-Denis, o presidente François Hollande foi retirado do local. Os acessos
ao estádio foram fechados às pressas, mas o jogo prosseguiu. Ao fim do jogo, os
alto-falantes pediram calma na saída dos presentes. Muitas pessoas ocuparam o
gramado, com medo da situação — ficaram retidos.
A polícia falou que as três explosões foram
atentados suicidas, e disse que ao menos cinco pessoas morreram no entorno do
local. Durante a manhã, uma ameaça de bomba contra o hotel da seleção alemã
forçou a retirada dos presentes no estabelecimento, mas não foram encontrados
explosivos.
Um quarto tiroteio aconteceu ainda no
principal shopping de Halles, depois dos demais ataques. O local é muito
movimentado, e é tido como um dos principais estabelecimentos no coração da
cidade.
ALERTA VERMELHO
Hollande já começou a tomar medidas de urgência
com seus ministros para avaliar a situação. Ele foi diretamente ao Ministério
do Interior para reunir seu gabinete de crise.. Em um anúncio em rede nacional,
ele anunciou que as fronteiras foram fechadas e o país está mantendo alerta de
vigilância máxima.
— Saberemos vencer mais uma vez o terrorismo
— declarou o presidente.
Ao decretar alerta vermelho, o país mobilizou
1.500 soldados para a capital. Muitos deles retiveram pessoas perto do Stade de
France e do Bataclan.
Nas últimas semanas, especialistas advertiram
que ataques islâmicos sem precedentes estavam sendo orquestrados contra a
França e que seria praticamente impossível desarticulá-los
— A temperatura subiu. Hoje, o objetivo deles
foi usar o tempo para que a mídia pudesse acompanhar o evento, transmitindo ao
vivo para o máximo de publicidade — confidenciou, recentemente, um
alto-funcionário da divisão contra o terrorismo. — Tememos que os ataques com
Kalashnikov vão durar.
SOLIDARIEDADE
Após os ataques, vários líderes europeus se
pronunciaram em solidariedade e expressando consternação.
"Estou chocado com os eventos esta noite
em Paris. Nossos pensamentos e orações estão com os franceses. Iremos fazer o
que for preciso para ajudar", disse o primeiro-ministro britânico, David
Cameron.
— Uma vez mais vimos uma tentativa de
aterrorizarcivis. Não é só mais um ataque contra a França, mas estamos
preparados para dar qualquer ajuda necessária — disse o presidente Barack
Obama. — Sairemos por cima do ódio de alguns.
"Consternada pela barbárie terrorista,
expresso meu repúdio à violência e manifesto minha solidariedade ao povo e ao
governo francês", afirmou a presidente Dilma Rousseff pelo Twitter.
O Globo
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