PROTESTOS PRÓ-IMPEACHMENT ESVAZIADOS PROVAM QUE O POVO CANSOU DE OPORTUNISTAS E MORALISTAS SELETIVOS


Estive refletindo sobre as movimentações dos políticos que foram ontem tirar proveito eleitoral das manifestações pró-impeachment ocorridas pelo País afora e aqui no Recife, no  Marco Zero. A primeira conclusão é a de que, por assim dizer, “quebraram a cara”, pois o proveito político-eleitoreiro pretendido foi nulo.

O erro de avaliação cometido pelos políticos pró-impeachment é típico de quem não tem a capacidade de interpretar o sentimento popular, pela simples razão de que esses políticos não se misturam com o povo de verdade. Em vez de ouvirem o povo, insistem em impor, ainda que subrepticiamente, suas vontades cheias de interesses pessoais. Aliás, o professor Adriano Oliveira, cientista político especialista em análises de pesquisas eleitorais, com várias obras sobre o tema, tem postado, com frequência, em sua página pessoal no Facebook, avaliações altamente pertinentes e abalizadas e que têm passado despercebidas por seus destinatários principais, que são esses políticos que insistem em não ouvir e apenas gritar, mais alto, suas vontades, até que se tornem “verdades”.

É impressionante como as colocações do professor Adriano Oliveira, de uma precisão desconcertante, têm sido ignoradas de lado a lado. Em recentes postagens, o professor lembrou que “Entre 2012 a 2014, os gastos públicos aumentaram e as pedaladas fiscais ocorreram. Neste período, Dilma tinha alta popularidade. Em junho de 2013, ocorre inflexão na popularidade de Dilma. Mas em 2014, Dilma é reeleita. Portanto, as pedaladas serviram para manter ou aumentar a popularidade de Dilma. Neste caso, os eleitores veem as pedaladas como motivo de impeachment ou as condições econômicas?” Pouco antes, Adriano questionara: “Prefeitos, governadores e presidentes da República precisam falar. Ao falarem, os eleitores são provocados, e constroem opiniões diante de tantas opiniões que chegam diariamente até eles. Por que a presidente Dilma não faz pronunciamento a nação explicando as pedaladas fiscais? Neste caso, mostrando as razões e os objetivos.”

Adriano Oliveira aponta, por um lado, o equívoco de se querer destituir Dilma por causa das chamadas “pedaladas fiscais”, pois quanto mais Dilma “pedalou”, já que as “pedaladas” visavam financiar não qualquer ato de corrupção, mas os programas sociais, mais Dilma se fez querida e popular perante a opinião pública. Já por outro lado, o cientista político da UFPE e do Instituto Maurício de Nassau destaca a péssima comunicação do governo Dilma, quando deixa de esclarecer à opinião pública sobre os motivos que a fizeram “pedalar”.

Então, o que se percebe e é possível que boa parte da população tenha, apesar da péssima comunicação do governo Dilma, também, se apercebido, é que uma caterva de malfeitores, capitaneados pelo malfeitor-mor, Eduardo Cunha e por seu lugar-tenente, Paulinho da Força, um vendilhão de greves e corrupto também denunciado por assaltos ao Erário, como Cunha, seu chefete, estão ávidos, como hienas famintas, para destituírem uma presidente não por ter, como eles, roubado o povo, mas, muito pelo contrário, por ter feito manobras contábeis, mesmo que de maneira reprovável, para usar o dinheiro dos bancos públicos para que os projetos assistenciais do governo, como Bolsa-Família, Minha Casa, Minha Vida, Prouni, dentre outros, não sofressem solução de continuidade.

Os que esperavam encontrar uma multidão que os aclamaria como salvadores da Pátria, por serem fiadores de um impeachment que tem como articulador principal alguém denunciado pelo procurador-geral da República por crimes que somadas as penas, alcançam mais de 178 anos de prisão. Falo de Eduardo Cunha, que só aceitou o pedido de impeachment contra Dilma, esse avalizado por Jarbas Vasconcelos (padrinho do eterno suplente de vereador e secretário de Geraldo Júlio, Jaime Asfora), do PMDB, por Bruno Araújo e Daniel Coelho, do PSDB, por Antônio Campos, do PSB e que usa o prestígio do irmão falecido, Eduardo Campos, como plataforma política e por Mendocinha, do DEM, que ressurgiu das cinzas e do ostracismo político por ter o impeachment como única razão de viver, encontraram, tão somente, algumas dezenas ou centenas de pessoas que ideologicamente já se posicionam à extrema direita e cujo apoio ao afastamento de Dilma, conduzido e manipulado por corruptos e corruptores denunciados por corrupção e outros crimes, como o próprio Cunha e seu capacho Paulinho da Força, ainda que a esta não se possa atribuir qualquer crime, é-lhes totalmente indiferente, o que, em si, já demonstra certa irracionalidade ou mesmo uma moralidade deformada nos indivíduos que ainda se prestam a fazer coro com os moralistas de moral casuística.

Na visão do cidadão comum, que não é corrupto, que está farto de tanta corrupção e mais farto ainda de oportunistas, esses políticos estão alinhados ou usam o chantagista, o corrupto Cunha, como agente para apearem do poder a presidente da República que, por mais falhas que tenha cometido, sejam políticas (a principal delas foi se deixar ficar refém do partido mais corrupto do nosso sistema partidário que é o PMDB e não o PT ou o PSDB, como muitos insistem em fazer crer, ao valorizarem essa pendenga enjoativa do partido azul contra o partido vermelho), sejam administrativas ou contábeis, como no caso das “pedaladas fiscais”, para pagar os projetos sociais do governo, jamais teve contra si qualquer mínima suspeita de corrupção. Aliás, ninguém duvide que toda essa perseguição que políticos sabidamente envolvidos em tenebrosas transações têm contra Dilma, inclusive de seu próprio Partido, o PT, decorram, justamente, dessa sua incorruptibilidade, que por não poderem chama-la de corrupta, utilizam ataques com conteúdo de gênero para desquialificá-la.

Há que se separar Dilma do PT, pois ela é muito melhor do ponto de vista da ética, do que seu partido, este sim, tão culpado quanto o PMDB, o PP, o PSB e o próprio PSDB, pelos desmandos de corrupção ocorridos na Petrobras nos últimos 20 anos.

Há que se separar a defesa de Dilma da defesa da democracia, embora Dilma seja, inegavelmente, uma democrata. Dilma errou e muito! E errou, principalmente, quando se permitiu ficar refém dos partidos que transformaram nosso país em um antro de corruptos e corruptores e esse não é um “privilégio” apenas do PT, que vem governando ladeado pelo PMDB, pelo PP e pelo PSB e, por incrível que pareça, admitindo a influência de muitos do PSDB em suas decisões de governo e o ministro tucano da Fazenda de Dilma está aí para não me deixar mentir.

Mas se Dilma ficou refém desse sistema é porque nós, como povo, colocamos o que há de pior e mais podre no Congresso Nacional e com isso colocamos, nós mesmos, nossa democracia em risco.

Cabe a nós, portanto, salvaguardarmos não o governo Dilma que não merece a nossa defesa, mas a nossa democracia que não pode ser vilipendiada porque Michel Temer quer ser presidente sem nunca ter recebido um voto para isso, ou porque Jarbas Vasconcelos quer, do alto de sua vaidade e arrogância, encerrar sua carreira política como presidente da Câmara Federal e se tornar o segundo na linha da sucessão presidencial e quiçá, até venha assumi-la, em alguma viagem de Temer. Ou, muito menos, porque o PSDB não consegue retomar o poder pelo voto popular.


Como tem dito o ex-ministro Ciro Gomes, impeachment não é solução para governo ruim, aliás, não há previsão constitucional para se destituir presidente por governar mal, tanto é verdade que péssimos presidentes como José Sarney e o próprio Fernando Henrique Cardoso, apesar de péssimos, foram suportados pelo povo até o último dia de seus mandatos. Fazer diferente com Dilma é sim, golpe, pela simples razão de que não há qualquer crime de responsabilidade que se lhe possa imputar, ao passo que contra seus acusadores, os libelos acusatórios são vastíssimos e já tramitam em processos criminais nas mais altas Cortes de nosso País.


Por Noelia Brito 




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